MANTEIGAS, CORAÇÃO DA SERRA DA ESTRELA
em memória de meus pais que me fizeram nascer numa terra tão bonita

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

DESCENDO O VALE

Não raramente, quando me desloco à minha terra, abandono a monotonia apressada que me trás desde Lisboa para, a partir da Covilhã, subir a Serra e, lá no alto, enfrentar a grandiosidade dos Cântaros, sentir o aconchego do Covão da Ametade e espraiar o olhar nas amplas formas suaves do Vale Glaciar do Zêzere. Depois, percorro, tranquilamente, aquela estrada estreita que me leva até Manteigas. Parece quase uma recta quando vista lá do alto. Mas são dezenas as curvas que faz, cujo mérito único está na variedade de paisagens que, uma após outra, se revelam a cada pequena mudança de direcção.
Enquanto vou por ali, gosto de pensar em como este vale se formou, como um glaciar, na sua deslocação, milhares de anos atrás, o recortou e lhe deu o perfil de um U quase perfeito ao longo de milhares de metros que, no fim, se espraia numa depressão mais alargada onde se situa a Terra onde nasci.
Por vezes, tento imaginar como tudo aquilo me pareceria se pudesse vê-lo outros tantos milhares de anos depois. Talvez um outro glaciar o preencha ou uma selva densa o disfarce… Mas que sei eu do que possa acontecer daqui a tanto tempo se tudo fica diferente tão depressa, como a minha já longa vida me permite comprovar?
E, depois do sonho que uma viagem sossegada torna longo, volto à realidade que me deixa olhar o que a Natureza agora me revela e a vida ainda me permite apreciar.
Até àquela visão tão esperada da Terra que vou visitar.














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